Há algo profundamente humano no ato de liderar, despertando desejos de organizar, inspirar, deixar marcas. Mas e quando o modelo que nos é oferecido parece uma roupa que não nos veste mais?
Um estudo conduzido entre março e abril desse ano pela Academia Brasileira de Inteligência Comportamental revelou que 74% dos profissionais aceitariam um cargo de liderança, mas 68% não se imaginam exercendo o papel de líder convencional, nos moldes atuais.
A maioria dos respondentes possuem entre 22 e 40 anos. Quase metade vem do Sudeste, região que concentra o poder econômico, mas também as contradições mais complexas do trabalho moderno. São pessoas de tecnologia, saúde, educação, engenharia, administração, nos mais variados cargos.
Chama atenção o fato de que mais de um quarto está há menos de dois anos no mercado, enquanto uma minoria significativa carrega uma década ou mais de experiência.
Os novatos já chegam desconfiados do tradicional "faça como eu mandei". Os veteranos, por sua vez, cansaram de ver promessas de mudança caírem no vazio. Juntos, eles formam um coro silencioso que pergunta: "Liderar para quê? E para quem?".
Cenário obsoleto
O levantamento mostra que há uma recusa em relação a caricatura do chefe distante, do gestor que fala em "pessoas primeiro" enquanto trata colaboradores como números.
Fica evidente o desejo por lideranças que construam pontes em vez de muros, que escutem antes de decidir, que enxerguem poder como serviço, não como privilégio.
Talvez a pesquisa não mostre uma contradição, mas um rastro de esperança. Se 74% querem liderar e 68% criticam o modelo atual, o que está em jogo não é o desejo de tomar decisões que impactem equipes, mas a busca por um novo jeito de exercê-las. Um jeito que ainda está nascendo, feito de tentativas, falhas e, sobretudo, da coragem de admitir que o futuro do trabalho não cabe nos moldes de ontem.